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Eduardo Afonso colunista do Globo 𝗘𝗡𝗤𝗨𝗔𝗡𝗧𝗢 𝗜𝗦𝗧𝗢, 𝗡𝗔 𝗦𝗔𝗟𝗔 𝗗𝗘 𝗝𝗨 | Café Brasil

Eduardo Afonso colunista do Globo 𝗘𝗡𝗤𝗨𝗔𝗡𝗧𝗢 𝗜𝗦𝗧𝗢, 𝗡𝗔 𝗦𝗔𝗟𝗔 𝗗𝗘 𝗝𝗨𝗦𝗧𝗜𝗖̧𝗔 #doutrinacao




Programa jornalístico (hipotético) de televisão. Quatro homens e uma mulher estão a postos para discutir violência sexista. O diálogo se dá entre Carol e Marcelo (nomes fictícios). Na volta do intervalo, Marcelo toma a iniciativa.
— A gente dá uns escorregões às vezes, né?, e a gente tem que lembrar pra não dar um escorregão, e há pouco cê usou uma palavra que a gente não usa mais...
— Supimpa? Lambisgoia? Entrementes? Sirigaita
— Não, uma palavra racista: denegrir.
— Mas denegrir é tão racista quanto amarelar, ficar vermelho de raiva ou dar um branco...
— Não, Carol. Qualquer palavra ou expressão que associe a cor preta a algo negativo toca num ponto sensível e contribui para a perpetuação do racismo.
— Mesmo que não tenha a ver com cor de pele, como “quando eu era criança, tinha medo do escuro”?
— Sim. Mesmo sem a intenção de ofender, estamos ofendendo e reproduzindo discursos de intolerância. Não pode.
— Não tinha pensado nisso. Que burrice a minha, Marcelo!
— Escorregou de novo, Carol. Chamar de burro alguém carente de inteligência é especismo, uma forma de preconceito que coloca a espécie humana acima das outras e atribui aos animais nossas características mais reprováveis. Ao repetir essas coisas — fazer papagaiada, ser galinha, ou um verme, uma anta, uma víbora —, você discrimina e oprime os animais não humanos.
— Nossa, que loucura!
— Mais um escorregão, Carol. Além de racista e especista, você agora está sendo capacitista e contribuindo para a desqualificação de pessoas com deficiência, com base no prejulgamento em relação a sua capacidade cognitiva. Cada vez que você emprega uma expressão dessas, coloca mais obstáculos à inclusão de pessoas portadoras de distúrbios psíquicos.
— Gente, eu devo estar ficando velha, porque...
— Carol, cê usou outra palavra proibida! Relacionar a idade a certos comportamentos inadequados é etarismo, a marginalização de grupos etários com base em estereótipos. Falas como essa aumentam a dificuldade de inserção de pessoas da melhor idade no mercado de trabalho, levam a disparidades salariais e até ao aumento no risco de doença cardiovascular. Simplesmente, pare!
— Vou ficar atenta, porque essas coisas parecem frescura, mas...
— Frescura? Você acaba de ser homofóbica, transfóbica, nãobinariofóbica, genderfluidfóbica...
— Mas eu não tenho nenhum tipo de objeção à orientação sexual de ninguém! Me sinto confortável com o homossexualismo e...
— Homossexualidade! Homossexuali-da-de. O sufixo “ismo” é usado para identificar doenças!
— Então progressismo, socialismo, modernismo e iluminismo são doenças?
— Carol, não mude de assunto. Por isso que eu quis te chamar a atenção, para que você mesma pudesse se desculpar.
— Tá bom, Marcelo. Mas você me corrigir publicamente e me explicar o que é isso, o que é aquilo, não é mansplaining?
— Bem, não conseguimos falar sobre sexismo neste bloco, então vamos para um pequeno intervalo e já voltamos, para tratar de censura e dos riscos que o fascismo representa para a liberdade de pensamento e de expressão.